Nasci e cresci num sítio, onde pelo estilo de vida da época, a casa modesta, não dispunha de livros , jornais, revistas para manuseio e apreciação. Os parcos livros e cadernos que via era de meus irmãos mais velhos que já estudavam, mas estes eram guardados a sete chaves e recomendados a não mexer, uma vez que após comprados com sacrifício, eram repassados para os irmãos e precisavam durar muito. Então meus primeiros contatos com a leitura e escrita foram nos tão aguardados bancos escolares após os sete anos de idade, pois a dificuldade de acesso (8 km de caminhada) nos privava do pré-primário na época.Na 3ª série, conheci a coleção do Monteiro Lobato: Sítio Picapau Amarelo e me maravilhei com ela a tal ponto de pedir licença para ficar lendo na “biblioteca” ( uma tábua de madeira na sala da diretora com pouquíssimos livros, seguramente menos de cinquenta),quando eu chegava adiantada por ter pego carona. Com o tempo, ganhei a confiança e podia levar um livro para casa nos finais de semana! Nossa, minha responsabilidade e cuidado eram exagerados: colocava o lindo, grande e pesado livro num “embornal” (sacola de tecido) feito pela minha mãe, pendurava-o no pescoço e transportava-o a pé ao sítio onde na singela moradia não dispunha de privacidade para guardar meu material escolar, então pendurava o embornal num prego alto na parede e recobria-o com uma peça de roupa para escondê-lo dos irmãos. Para a leitura as dificuldades continuavam pois apesar da pouca idade, tinha afazeres domésticos fixos e nos horários livres me aventurava a buscar abrigo e privacidade à sombra de uma árvore retirada da casa, onde a posição incomodava os insetos picavam... Eu passava horas lendo e não tinha receio com a escrita quando me era proposta na sala de aula uma composição à vista de uma gravura, minha imaginação disparava ao ponto da professora intervir quanto à quantidade de linhas escritas. Continuo prolixa... me desculpem por favor, porém este é um dos meus depoimentos sobre leitura e escrita que particularmente acho interessante e me orgulha muito .
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário